Carta de amor ao livro

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Desde que existo que gosto de livros. Primeiro de forma passiva. Não sabia o que fazer com eles. Gabava-lhes a lombada, a capa promissora e perdia-me num mar de letras que não percebia. Talvez por isso fui tão bom aluno no primeiro ano, tinha tal sede de saber juntar letras em ideias que não pensava em mais nada. No Verão de 1992 já li com a avidez que até hoje me acompanha.


O que li? O que aparecia. Na altura não tinha a elasticidade financeira que hoje vou tendo portanto tudo o que me emprestasssem ou oferecessem era bem-vindo. Lembro-me que, na rua principal paravam umas carrinhas cor-de-vinho que vinham da parte de um senhor arménio que morava em Lisboa. Entrava lá dentro e o senhor arménio de Lisboa emprestava-me, por uma semana, uns livros. Sei hoje que se chamou Calouste Gulbenkian e foi um grande amante de arte. Nos tempos de guerra escolheu Lisboa para fazer descansar o seu espólio. Volta e meia vou à fundação dele e compro uns belos livros de filosofia.


Mais tarde vieram as aventuras. Não gostava muito dos Cinco (adivinhava já o asco pelo Noddy, da mesma autora?) mas lia. Quando me ofereceram o Clube das Chaves fiquei no céu. Devorei. Uma Aventura. Devorei. Triângulo Jota? Devorei.


BD? É a minha recente tara com Watchmen e outros que tais mas com os meus 14 anos descobri Tintin, Asterix. Mais tarde veio Spirou, Gaston La Gaffe, Calvin & Hobbes e Adam.


Um dia vim a Lisboa, sou do Cercal, fiquei à espera que a tia acabasse um reunião e entrei numa livraria. Com o dinheiro contado comprei o meu primeiro livro do Luís Sepúlveda. Foi amor. Li todos até hoje e assim que saí um novo compro-o logo. Gosto muito daqueles contos poéticos sobre realidades simples.


Depois diversifiquei e, tenho a sorte de me ir apaixonando com facilidade mas profundeza por muitas letras diferentes. A loucura de Harry Potter ainda no ano 1999, Adrian Mole de Sue Towsend, Eco com Baudolino, Puzzo com A Família, Fernando Pessoa com O Livro do Desassossego, Eça com A Cidade e as Serras, Alberoni com os seus tratados sobre o amor, Ken Follett com os seus épicos medievais e neste momento apaixono-me por Sándar Márai com As Velas ardem até ao fim.


Que puro amor se pode ter pelas letras que nos engolem e, fazem de nós heróis.