Tim Burton encontrou em Lewis Carroll, que escreveu este Alice há quase 150 anos, o seu argumentista perfeito.
Com mais meios, leia-se dinheiro, que nunca, Burton soltou toda a sua genialidade, num filme de camadas que pode agradar aos pequenos que os pais levam ao cinema em grande número (não sabem que nem tudo o que parece, é?) mas é para os crescidos, que se dirige este filme. Só crescidos, e para ser crescido, é preciso ter a imaginação infantil e a inteligência musculada, é que podem chegar perto de entender a subtil grandeza de duas mentes geniais emparelhadas.
Da história pouco há a dizer. Há dezenas de versões do livro. Há vários filmes. Houve desenhos-animados.
O que aqui interessa é o que Burton traz à história que não existisse já. E a resposta é: Burton traz compreensão. Burton entende Carroll.
Mia Wasikowska, de 19 anos, é Alice. E ainda bem. Contrastando com a doçura da sua cara, temos na actriz, uma Alice determinada e destemida que se vai transformando, passo a passo, numa jovem inglesa espartilhada no Séc. XVIII, numa heroína de uma terra de maravilhas e perigos. Alice faz uma jornada de descoberta e nós assistimos a tudo.
No caminho conhece o Chapeleiro. Fabulosos J. Depp que pintou o cabelo e as mãos de laranja (o mercúrio, no Séc.XVIII era usado no fabrico de chapéus e causava a demência dos chapeleiros) e deu ao estranho homem toques de génio como o sotaque escocês quando se irrita, ou quando repete a pergunta: o que têm em comum, um corvo e uma escrevaninha? Depp supera-se. Como pirata, com mãos de tesoura, com navalha na mão. Depp supera-se a cada fita. Burton só tem que lhe dar um pequeno incentivo.
Helena Boham Carter, é a Rainha Vermelha, com uma grande cabeça e mais uma interpretação de grande calibre. Está colada à carreira do marido mas o seu talento é do tamanho global da sua cabeça.
Cinco estrelas.