A quadrilha
Vou contar-vos do princípio uma história de desencontros na qual só entrei no fim.
Desde muito cedo, percebi a importância que aquelas pessoas tinham umas para as outras. Não era o simples grupo de amigos que se juntava para umas saídas à noite, ou às sextas-feiras para beber um copo. Era o grupo de amigos, a quadrilha, que se juntava à sexta-feira e aos outros dias todos à volta dos copos. À volta das tempestades em copos de água, à volta das tempestades que traziam água aos olhos. Olhos que muito riram, olhos que muito viram, que olhos eram estes? Eram os olhos azuis do João, azul como o mar que lhe batia à porta todas as férias. Os olhos verdes da Teresa, verde como o pequeno jardim de sua casa onde brincavam. Os olhos castanhos do Raimundo, castanho como o tronco de árvore onde marcavam os seus nomes a cada final de férias como contrato de volta. A árvore era o notário, a testemunha, o compromisso, a promessa. Os olhos amarelados da Maria, amarelo como cada grão de areia, cada castelo construído, em tempos em que o drama era a força do mar ou a intensidade do vento que o destruí-a. Os olhos pretos do Joaquim, preto como o escuro das noites que lhes faziam companhia nas longas conversas. Os olhos alaranjados da Lili, laranja como o nascer e o pôr-do-sol, conforme o estado de espírito.
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