"Quase quarenta por cento dos idosos passam mais de oito horas sós" - Esta é uma notícia do Público de hoje. Leio tal notícia (que na essência não é nova) e não posso evitar um profundo sentimento de tristeza. á cabeça vem-me logo a minha avó e a sua velhice. É hoje uma sombra daquilo que foi. Foi trabalhadora não tendo conhecido outra infância que não a dos filhos e dos netos. Hoje é esquecida, desorientada mas nem por um segundo passa pela cabeça do meu clã depositá-la num lixeira humana ou deixá-la em casa para só alimentá-la. Na minha cultura de família oriunda de uma terrinha alentejana os velhos morrem em casa. Ficam com a família até que o Senhor os colha. Eu não sou santo algum mas tenho orgulho de fazer parte de uma família que não entra nesta notícia. Os velhos são o nosso arquivo.
1 comment
Claro que passam mais de oito horas sós. Sendo idosos, muitos deles são viúvos. Dormem sozinhos. Só isso já faz as tais oito horas diárias. Agora mais a sério: evidentemente, pretendi gozar com a notícia em si, que não esclarece coisíssima nenhuma. O que comecei por dizer, sendo a brincar, é uma verdade. Para além disso, passarem umas horas sós não quer dizer que tenham sido abandonados pela família. Pelo contrário, suponho que passam muito mais tempo acompanhados quando são "depositados" em lares. Em casa é que se arriscam a estar sozinhos porque, afinal, os mais novos têm de trabalhar, não é? Percebo o teu alerta: em Portugal os velhos são, muitas vezes, abandonados, mas esta notícia (ou esta manchete, que a notícia não a li e pode ser que até explique melhor) não diz absolutamente nada. Eu posso perfeitamente dar todo o carinho aos meus pais ou avós. O que não posso é deixar de trabalhar para lhes fazer companhia a tempo inteiro.
Post a Comment