O homem solitário
Solidão. Eis uma palavra em que Luís se banhava todos os dias da sua rídicula existência. Acordava todos os dias à mesma hora, saia de casa à mesma hora, entrava e saia do trabalho à mesma hora e à mesma hora ia dormir. Dos ponteiros da manhã até aos ponteiros da noite nada parecia mudar. Era escura a vida de Luís.
Um dia começou a sentir-se mal. O peito cheio, dores no coração. Parecia que tinha em si mil angústias presas e que elas lhe enchiam o peito ameaçando explodir-lhe as carnes contra o mundo. Foi a vários médicos mas muitos meses de exames e comprimidos apenas o fizeram mergulhar num quadro mais negro do que a sua amiga e habitual negritude.
Um dia quis acabar com tudo, foi até à ponta e tragicamente ia atirar-se. Ela ia a passar de carro. A madrugada ameaçava-se fazer-se dia e ela parou na ponte ainda vazia.
Correu até ele e disse para ele parar. Ele não se mexeu. Ela beijou-o. Nunca se tinham visto.
Ele sentiu todo o peso do peito lançar-se ao rio mas ele curiosamente não tinha ido para o rio nem para a eternidade de um um sono desconhecido, ele ainda estava ali e estava dentro da boca dela como que a ver-lhes os sonhos.
Ela voltou para o carro e ele seguiu-a. Ela deixou-o em casa sem lhe dar o corpo. Ele pintou a vida a novas cores, nunca mais a viu mas estava curado, o peito já não lhe pesava. Ela beijou-o e apresentou-o à esperança.
3 comments
Belíssima história!
Me identifiquei, e sento que muitos também se identificarão, pois a parceira mais amiga é a solidão, que não te abandona jamais, e quando todos se vão, é ela que fica...
E que às vezes, até mesmo entre várias pessoas, é ela que se destaca... entre tantos rostos...
grande história bro..não há palavras como sempre!!!
abraço fill
a solidão é tão real em minha vida penso que nau sobreviveria sem ela
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