A Quadrilha por Sara e Francisco
Vou contar-vos do princípio uma história de desencontros na qual só entrei no fim.Desde muito cedo, percebi a importância que aquelas pessoas tinham umas para as outras. Não era o simples grupo de amigos que se juntava para umas saídas à noite, ou às sextas-feiras para beber um copo. Era o grupo de amigos, a quadrilha, que se juntava à sexta-feira e aos outros dias todos à volta dos copos. À volta das tempestades em copos de água, à volta das tempestades que traziam água aos olhos. Olhos que muito riram, olhos que muito viram, que olhos eram estes? Eram os olhos azuis do João, azul como o mar que lhe batia à porta todas as férias. Os olhos verdes da Teresa, verde como o pequeno jardim de sua casa onde brincavam. Os olhos castanhos do Raimundo, castanho como o tronco de árvore onde marcavam os seus nomes a cada final de férias como contrato de volta. A árvore era o notário, a testemunha, o compromisso, a promessa. Os olhos amarelados da Maria, amarelo como cada grão de areia, cada castelo construído, em tempos em que o drama era a força do mar ou a intensidade do vento que o destruí-a. Os olhos pretos do Joaquim, preto como o escuro das noites que lhes faziam companhia nas longas conversas. Os olhos alaranjados da Lili, laranja como o nascer e o pôr-do-sol, conforme o estado de espírito.
Os seus caminhos separaram-se. O João foi para os Estados Unidos estudar gestão, sempre teve jeito para números, era sempre ele que ficava que dividir as contas dos jantares. A Teresa percebeu que amava mais Deus que Raimundo e foi para o convento, para grande espanto de todos. O pobre Raimundo, o mais radical de todos, entrou para desporto. Morreu num acidente de moto dois anos depois daquele Verão, este acidente ficou-lhes marcado. A Maria que sempre foi a mais bonita, foi para design. Pode-se dizer que tem uma carreira de sucesso, mas com tantos pretendentes, não soube escolher e ficou para tia. O caminho mais inesperado foi o do Joaquim. Perdeu-se e só se encontrou de novo no Bairro do Sol, sozinho, encostado à árvore, com uma caixa de comprimidos ao lado, depois de riscar o seu nome, ele não voltaria.Depois daquele Verão no Bairro do Sol em que o amor os baralhou, só se voltaram a encontrar três vezes. A primeira no funeral do Raimundo, no qual choraram e fizeram promessas de se ver mais vezes, por eles, pelo Raimundo. Nada fizeram. A segunda no funeral do Joaquim, redobraram as promessas entre lágrimas. Estas secaram e com elas as promessas, só mais uma vez se viram. Por fim a terceira, no súbito casamento da Lili no qual perceberam que se tinham perdido e fizeram votos de nunca mais se separarem
Sim, no meu casamento com Lili. Lili casou-se comigo, J. Pinto Fernandes. Até ontem, não havia dia em que não ouvia falar no Bairro do Sol, na árvore onde escreviam os seus nomes ano após ano, e das “paixonetas” que foram bem mais do que isso. Tudo na Natureza nasce da chuva e do sol, sei que também Lili nasceu e cresceu graças ao sol que os amigos daquele Bairro lhe proporcionaram e que fizeram com que eu não pude deixar de me apaixonar por ela. Apesar das suas últimas férias no Bairro do Sol terem sido há muito tempo e das recordações já terem pó, agradeço aquele Bairro e os amigos por tudo o que fizeram pela minha Lili. Este bairro fez correr muita chuva nos seus olhos. Chuva de saudade e chuva de tristeza ou de alegria, conforme. Chuva de saudade a cada dia que passava e não os via, chuva de tristeza na morte de Raimundo e de Joaquim, chuva de alegria cada vez que se lembrava de mais um Verão.Conto esta historia por amor a Lili que foi ontem ter com Raimundo e Joaquim a um Bairro, que espero melhor que este. Aquelas férias foram os melhores da minha vida sem sequer as ter vivido. Quanto aos amigos do Bairro do Sol, nenhum deles se esqueceu daqueles Verões, mas nenhum deles teve coragem para dar Sol aos seus Bairros. Hoje encontro-me com eles todas as sextas-feiras. Por amor a Lili. É assim que a mantenho viva.
Encontravam-se todos os anos, todos os Verões e sempre na Costa, no Bairro do Sol. Nenhum lá nasceu, nenhum lá cresceu, nenhum lá viveu, mas um lá morreu. Nenhum lá viveu por mais de dois meses por ano, no entanto era lá que todos se sentiam em casa. Conheceram-se há aproximadamente quinze anos. Tinham eles seis, sete, ou oito anos.Passada a fase dos castelos, surgiu a dos príncipes e das princesas. Começaram a apaixonar-se, cresceram. O primeiro foi o João que viu em Teresa o despertar da paixão. Esta só tinha olhos para o Raimundo, que por sua vez, morria de amores pela Maria, que via em Joaquim o que Lili não via.Do grupo do Bairro do Sol, só Lili não se apaixonou qualificando-se como o muro de lamentações dos amigos. Depois daquele verão em que os sentimentos ultrapassaram o limite da amizade, nada voltou a ser o que era. Naquele fim de Verão, quando voltaram a escrever na árvore, não sabiam se podiam cumprir a promessa de voltar. Tinham agora dezoito anos e a sua infância ficou em frente ao Bairro do sol, enterrada na praia.
Os seus caminhos separaram-se. O João foi para os Estados Unidos estudar gestão, sempre teve jeito para números, era sempre ele que ficava que dividir as contas dos jantares. A Teresa percebeu que amava mais Deus que Raimundo e foi para o convento, para grande espanto de todos. O pobre Raimundo, o mais radical de todos, entrou para desporto. Morreu num acidente de moto dois anos depois daquele Verão, este acidente ficou-lhes marcado. A Maria que sempre foi a mais bonita, foi para design. Pode-se dizer que tem uma carreira de sucesso, mas com tantos pretendentes, não soube escolher e ficou para tia. O caminho mais inesperado foi o do Joaquim. Perdeu-se e só se encontrou de novo no Bairro do Sol, sozinho, encostado à árvore, com uma caixa de comprimidos ao lado, depois de riscar o seu nome, ele não voltaria.Depois daquele Verão no Bairro do Sol em que o amor os baralhou, só se voltaram a encontrar três vezes. A primeira no funeral do Raimundo, no qual choraram e fizeram promessas de se ver mais vezes, por eles, pelo Raimundo. Nada fizeram. A segunda no funeral do Joaquim, redobraram as promessas entre lágrimas. Estas secaram e com elas as promessas, só mais uma vez se viram. Por fim a terceira, no súbito casamento da Lili no qual perceberam que se tinham perdido e fizeram votos de nunca mais se separarem
Sim, no meu casamento com Lili. Lili casou-se comigo, J. Pinto Fernandes. Até ontem, não havia dia em que não ouvia falar no Bairro do Sol, na árvore onde escreviam os seus nomes ano após ano, e das “paixonetas” que foram bem mais do que isso. Tudo na Natureza nasce da chuva e do sol, sei que também Lili nasceu e cresceu graças ao sol que os amigos daquele Bairro lhe proporcionaram e que fizeram com que eu não pude deixar de me apaixonar por ela. Apesar das suas últimas férias no Bairro do Sol terem sido há muito tempo e das recordações já terem pó, agradeço aquele Bairro e os amigos por tudo o que fizeram pela minha Lili. Este bairro fez correr muita chuva nos seus olhos. Chuva de saudade e chuva de tristeza ou de alegria, conforme. Chuva de saudade a cada dia que passava e não os via, chuva de tristeza na morte de Raimundo e de Joaquim, chuva de alegria cada vez que se lembrava de mais um Verão.Conto esta historia por amor a Lili que foi ontem ter com Raimundo e Joaquim a um Bairro, que espero melhor que este. Aquelas férias foram os melhores da minha vida sem sequer as ter vivido. Quanto aos amigos do Bairro do Sol, nenhum deles se esqueceu daqueles Verões, mas nenhum deles teve coragem para dar Sol aos seus Bairros. Hoje encontro-me com eles todas as sextas-feiras. Por amor a Lili. É assim que a mantenho viva.
2 comments
Porra grande inspiraçao.cm e k tu tens inpiraçao pa isto td?mt bom.mt bom mesmo
Hummm..reconheço este tema..lili que ama raimundo que ama já não me recordo quem, que por sua vez ama alguém que ama outro alguém..enfim um imbróglio de emoções desencontradas..é assim mesmo a vida.lol..Escrita Criativa foi sem dúvida uma cadeira que marcou pela liberdade de imaginação e encantamento..que saudades!!
bjs
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