Cinema-Fados

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O fado é uma rica amostra da cultura portuguesa. É uma canção triste e melancólica como o povo que nela cresceu e agora a ignora. Mas, o fado está vivo e o sucesso de novos fadistas como Mariza, Camané ou Ana Moura vai transbordando para nos lembrar que somos o povo da saudade. Os portugueses são talvez o único povo que saiba viver com a tristeza e não com a alegria.


Não sabemos é dar valor suficiente ao que temos e tem que vir um espanhol, Carlos Saura, fazer um filme sobre o fado. Não tenho o complexo anti-Espanha. Mas gostava de ver um realizador português filmar a história do fado e, depois de ver Fados, digo que há espaço para tal projecto.



Fados é um filme bonito. Mas não sabe contar a história a que se propõe. É, apenas uma sucessão de canções de fado e derivados. Mas é um filme interessante de se ver pois cada canção vale a pena ser ouvida.

Não há uma palavra no filme que não seja cantada e este filme não é mais que um concerto de vários artistas.


O filme não tem narrativa.



Mas o que filme tem é artistas que com talento e sentimento cantam o fado e os seus rebentos africanizados e abrasileirados.

Salvam o filme os artistas. Temos Caetano a cantar, em falsete, um dos mais conhecidos fados (Foi por vontade de Deus....que vivo nesta...) no mais puro português de Portugal; temos Mariza a mostrar-se como a personificação do fado actual e muitos mais artistas. Uns são monstros como Chico Buarque de Olanda, outros são jovens como a Carminho.


Este é um filme que cabe na banda sonora e , essa sim é muito boa.

Reflexões a metro

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Pronvicianamente não gosto de andar de metro. Mas é prático e rápido. Por isso ando.
Mas no funcionamento do Metro de Lisboa não percebo a série de postos de atendimento que não servem para nada. Conheço um ao lado do local onde trabalho onde estão pelo menos duas pessoas dentro dum compartimento mas não podem fazer nada: não vendem bilhetes, não vendem passes e só a custo de uma cara feia dão informações. Para que serve esta gente?
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Este é um dos meus poemas favoritos. Até hoje não fazia sentido dize-lo para ninguém. Agora faz e percebo o poeta na plenitude da minha baixa genialidade.

Para ti:

Corpo de mulher, alvas colinas, coxas brancas, ao mundo te assemelhas em teu ato de entrega.

O meu corpo selvagem de camponês te escava e faz saltar o filho das entranhas da terra.
Fui um túnel vázio.

De mim fugiam pássaros e a noite me infiltrava sua invasão resoluta.
Para sobreviver forjei-te qual uma arma, uma flecha em meu arco e pedra em minha funda.
Tomba porém a hora da vigança e eu te amo.

Corpo de pele e musgo, de leite ávido e firme.
Ah os vasos do peito!
Ah os olhos de ausência!
Ah as rosas do púbis!
Ah tua voz lenta e triste!
Corpo de mulher minha, persisto em tua graça,

Minha ânsia sem limites, meu caminho indeciso!
Sulcos escuros onde a sede eterna corre,
onde a fadiga corre, e a dor, este infinito.


Pablo Neruda
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"O que é sofrer para mim que estou jurado para morrer de amor?"


Djavan



Tenho ciúmes de cada dia em que eu não existia em ti. Tenho ciumes do teu passado porque eu não estava lá. Não gosto nem quero gostar de nada que fizeste antes mesmo agradecendo tudo o que és e sabendo que esses momentos idos fizeram-te.


Queria ter sido o teu primeiro. Em tudo. A provar-te. A dar-te o primeiro beijo. A primeira luz. O primeiro nascer do sol. Não suporto nem quero suportar que outros houveram antes que te fizeram sonhar. Por muito desfeitos que possam ter sido esses sonhos invejo-os. Quero-os todos para mim.


Quero absorver-te e roubar-te ao mundo para mim. Ficares no meio peito e o resto calar-se. às vezes iluminas-me mais que as estrelas. Tenho um astro meu. O teu passado não é meu mas o futuro é. É tão pouco tempo um futuro, não é?

O regresso de um rei II

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1- José Rodrigues do Santos volta a mostrar um livro a Portugal numa altura em que a sua vida como jornalista se encontra atribulada. JRS veio a público dizer que se sofre pressões na RTP para passar certas mensagens e a RTP veio a público dizer que JRS tem tiques de estrela e não é bom empregado. Era uma vez um jovem pivot que em 1991 se tornou na estrela do canal ao fazer em directo a cobertura da Guerra do Golfo nas suas primeiras dez horas. Hoje JRS está muito próximo de deixar a RTP.


2- Mas JRS é mais que um jornalista. O homem que diz ter preguiça de escrever mais volta a piscar o olho a Dan Brown com um livro que tem como pano de fundo as questões ambientais (bem jogado agora que Al Gore ganhou o Nobel da Paz pelo seu empenho na luta verde).

JRS não é um bom escritor. Mas é um optimo compilador de informação e , após o sucesso de Codex 632 ou Fórmula de Deus regressa com um livro com a mesma história : o simpático professor Tomás Noronha regressa para as suas aventuras desta vez com o fim do mundo que o homem não soube cuidar.


3-JRS é um homem inteligente. Lançou o livro numa altura em que o seu nome é falado e lançou um livro sobre uma questão da qual todo o mundo fala. Seja bom empregado da RTP ou não, JRS é um escritor eficaz e que proporciona uma leitura pedagógica e divertida. Pena é que mantenha há três livros a fórmula vencedora em vez de arriscar.


4-Confesso já ter lido umas boas linhas do novo livro e gosto. É leve e divertido mas fala de assuntos de pouco riso. JRS não é um grande escritor mas põe os portugueses a ler. E como o próprio diz tem o mérito de ter posto milhares de portugueses a ler sobre história e ciência. Mérito.