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De uma perspectiva somos todos grandes. De um ângulo somos todos felizes. De um prisma todos valemos a pena. Não escolhamos então a tendência humana para sofrer. Recusar-se a sofrer é recusar a humanidade e recusa-la é viver.
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Há dias assim, não há? Assim como que vazios e fazer pensar que há dias banais. Há dias como hoje que parecem coloridos a lápis de carvão.
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O Almoço


Estás sentado como que a almoçar mas não é o peixe fresco teu vizinho que saboreias. É o momento, os momentos. Aquele momento é a tua vida. A mesa do quintal está posta e tu tens os olhos postos na família que te promoveu agora a homem. Por um momento olhas para o ar e vês algo. A voar passa a tua infância. Voltas a olhar para ti e o corpo mudou, creceste. O corpo empurra-te para cima e o coração aponta para baixo.
À tua volta o elenco da tua vida. O avó rijo no alto dos seus longos anos afaga o bigode e enterra os dentes ainda gulosos no peixe, são sempre de sorrir as suas palavras. Até agora apenas não ajudou as doenças, todos lhe devem, é um homem respeitado. Aprendi-lhe o respeito.
No pai bebo aquele ar bondoso de ser firme. Forte e militar sonha com os anos em que era o melhor militar, há não é um herói na terra, é apenas o meu herói. Curioso os pais, primeiros são nossos heróis, depois achamos que não sabem nada e, quando já sabemos alguam coisa voltamos a ve-los heróis mesmo sendo tão humanos.
A avô tá fraca mas a sua presença é forte. Tem o peso de nos cuidar a vida toda, deu-nos a força e agora tem pouca. Mas dispara ainda as suas histórias, já as conheço mas oiço-as e saboreio-as como se fossem novas, acabadas de desembrulhar.
A minha mãe escolheu criar-nos e agora não sabe o que fazer. Tem nela o peso de nós todos. O trabalho de uma mãe são sempre os filhos.
Foi mais um almoço. Quero mais. Quero comer estes momentos regados ao mais belo vinho alentejano.
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Nunca a alheia vontade, inda que grata,

Cumpras por própria.

Manda no que fazes,

Nem de ti mesmo servo.

Niguém te dá quem és.

Nada te mude.

Teu íntimo destino involuntário

Cumpre alto. Sê teu filho



Fernando Pessoa

A noite

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Às vezes a noite é clara. O escuro está dentro de nós. Sais com os novos ténis da moda ainda a brilhar e juntas-te a amigos que para ti nunca sairam de moda. Está calor e os decotes passeiam frente aos teus olhos insasiáveis. Sentas-te na esplanada que já te conhece de cor e ves a cor do Verão. Ris. Estas noites são todas sobre rir. Ris. Bebes um copo, depois outro que nadar numa bebida ajuda-te o riso. Chegam as amigas que não vês desde aquele vez. Aquele beijo. Aquela piada. Trocas personal parvoices com o teu best friend e chegam as companhias. Aquela que estuda acolá e vem bem-disposta, a que mora ao virar da esquina vem com o namorado que é porreiro. Está-se bem, estas noites são isto.

Vais dançar. Inventas a cada minuto uma coreografia mais parva mas que te puxa o riso, eterno o riso das noites de Verão. À tua frente uma mulher bonita, que não sabes porque te escolheu, mas tá ali e ri-se contigo. Abençoadas mulheres metadona. Está tão longe a tua droga.