A família das flores
Ainda durmo quando lá passo. Ali. a cem metro da boca. O metro faz-me kilómetros. Ainda durmo mas desperto com aquela família. Pai, mãe e filhos. Ainda durmo mas vejo já tão cedo o ínicio dos trabalhos. O pai estaciona a grande carrinha e a mãe com os filhos (3?) descarregam. Montam a banca. Flores. Vendem flores. Vender beleza é uma boa profissão. Não será? Mas tão cedo. Cedo o suficiente. Aqueles filhos não deviam estar a comer? Não deviam ter uma mala às costas. Os filhos dos vendedores de flores não vão à escola? Aqueles não. Há carinho. Vejo-o. Os irmãos são apegados como se fora da família não houvesse mais ninguém. Eles contra o mundo. O resto do mundo deles são os compradores. Eles decidem o que é o jantar. O pai é duro, bate nos filhos na rua, é severo. Vende beleza mas vê a beleza como sendo um negócio. A mãe é submissa, mulher de outros tempos vivendo nestes que parece não perceber. Mas, é pelas crianças que durmindo me acordo: porque não estão na escola? Os vendedores de beleza não a dão aos filhos?
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