Carta de amor ao meu avô
Na carne já se lhe acumulam mais de 70 anos. Muito tempo para andar cá mas sabe a pouco. Sabe a tão pouco que o quero cá mais calendários. Passar pela sua desitência de respirar será um dos mais negros dias, até para um melancólico há dias mais negros. O que lhe pesa na carne parece que nunca lhe pesava no espírito. Mesmo estando ele já negro sempre nos animou, mas, quando brilhava, iluminava o Alentejo todo. Este não é um texto de despedida. Ele não partiu. Este é um texto de amor e homenagem.
É trabalhador desde a mais tenra das idades. Levanta-se cedo. Toma banho de água fria. Come fritos ao pequeno almoço. Era/foi/é o homem mais forte que cinheci. Herdei-lhe o jeito para dormir pouco e ainda assim trabalhar mais do que devo. Herdei-lhe o jeito para por desenhos a carvão em qualquer papel sobre qualquer objecto. Falhei no jeito para as contas. Acertei no humor e na genorisadade. Dele vieram as minhas qualidades e o jeito para homenagear Baco.
É pai e avô. Agora sei que ofega com o peso da vida, que respira mal o ar que já não é do tempo dele. Sei que não se queixa. Sei que doi. Sei que me orgulha. Sei que o amo.
1 comment
é por posts como este que quando me perguntam o que deve ser a blogosfera, penso no «Há Normal?!».
abraços bro.
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