O avô faz falta ao Sol

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No Baixo do Alentejo o calor já vai alto. Pudera, estamos no Verão. Os campos ficam mais secos, num beige alentejano, metade melancolia, a outra moleza. Os moços novos escapam-se ao calor como podem: vão de carreira até Milfontes e dão banhos, combatem a quentura com umas fresquinhas cervejas. Os velhotes fazem juz ao foclore e abrigam-se à sombra da árvore. Nestes dias após o matabicho dá um quebranto.


Até ao ano passado o avô era assim. Mais um dos velhotes alentejanos aguentando-se ao sol. O despertar era às 6 da manhã com direito a duche frio, havia um bom esquentador lá em casa, mas o avô nunca quis saber dela. Banho era de água fria. Depois o pequeno-almoço. Não havia quem faltasse que tivesse fome e, portanto a refeição era sempre para dois ou três. Os homens antigos faziam assim: um bocado de carne frita, ou presunto, ou torresmos, ou toucinho. Uns farrascões de casqueiro e um copo alto de vinho tinto. Assim é que o avô se encheu de colestrol. Mas sabia-lhe bem.


Na taberna vendia uns copos até à hora do almoço. À uma o mundp parava. Hora de almoço era sagrada. Favas, Ervilhas, Cozido de grão, de couve ou de feijão. Carne. Peixe. Papas. O avô não era nada esquisito e a mão da avó para o tempero sempre foi certeira. Bela dupla.


Após a refeição era tempo de uma bica fraca. Depois, o avô punha um chapéu e um banco à porta e apanhava um banho de sol. Eis uma imagem que me desperta saudade. Há quase um ano que o avô já não põe o chapéu. O avô faz falta ao Sol.